Capitão de Abril. Morreu o tenente-general Franco Charais

por RTP
A Associação 25 de Abril lembra Franco Charais como “um dos principais artífices do 25 de Abril de 1974". RTP

O Capitão de Abril tenente-general Manuel Ribeiro Franco Charais morreu esta terça-feira aos 93 anos. A Associação 25 de Abril, que avançou com a notícia do falecimento, lembra Franco Charais como “um dos principais artífices do 25 de Abril de 1974".

A associação lembra que o Capitão de abril Franco Charais foi “um dos principais artífices do 25 de Abril de 1974, integrante da comissão que elaborou o Programa do MFA, carta de missão de quem protagonizou, acima de todos, uma das mais belas páginas da História de Portugal”.

Considerando este Programa do MFA “a base da consolidação da Democracia em Portugal, assente na nossa Constituição da República”, o comunicado do seu falecimento recorda-o, “nesse processo de consolidação, um dos principais dirigentes do MFA, seja na Comissão Coordenadora, no Comando da Região Militar do Centro, no Conselho de Estado, no Conselho dos Vinte ou no Conselho da Revolução, onde se manteria até à sua extinção em Outubro de 1982”.

“Não é só a sua família, os seus amigos ou os seus camaradas Capitães de Abril que ficam mais pobres, com a sua partida. Portugal fica também mais pobre, ao ver partir um dos seus melhores”, sublinha a associação 25 de Abril numa carta assinada por Vasco Lourenço.
Nome maior da Revolução
Tenente-general do Exército já reformado, Manuel Ribeiro Franco Charais nasceu no Porto, em Cedofeita, a 24 de fevereiro de 1931, foi um nome maior da Revolução dos Cravos.

Militar de Abril, além de colaborar na redação do programa do Movimento das Forças Armadas, entre 1974 e 1982 Franco Charais integrou a Comissão Coordenadora do MFA, Conselho de Estado, Conselho de Revolução e comandou a Região Militar do Centro.

Dois dias depois da revolução, na madrugada de 27 de abril de 1974, foi Franco Charais quem deu instruções para a libertação de todos os presos políticos do Forte de Caxias, um dos momentos decisivos para o sucesso da Revolução de Abril.

Em 2017, em entrevista à revista ‘O Referencial’, da Associação 25 de Abril, Charais recorda ter recebido no seu auditório “uma comunicação telefónica de um oficial da marinha encarregado da prisão de Caxias que, sujeito a pressões da população para libertar os presos, tinha recebido ordem do general Spínola para libertar os políticos e manter presos os de delito comum”.

“Pensei apresentar o assunto ao CEMGFA mas decidi pedir ao capitão Menino Vargas para se deslocar a Caxias com ordem minha para que todos os presos fossem libertados. E assim aconteceu”, lembrou o capitão de Abril.

Crítico do Estado Novo, aderiu ao Movimento das Forças Armadas, contou na mesma entrevista, fruto de um sentimento de profunda insatisfação com a situação política e social de um país cujas leis “serviam um senhor e o seu séquito” e a “maioria da população vivia em condições inaceitáveis”.

Desempenhou missões militares em Portugal Continental, Açores, Madeira, Angola e Moçambique durante treze anos e foi comandante dos Bombeiros Voluntários do Funchal.

Marcou também presença em missões, parte delas tendo em vista contactos com imigrantes portugueses, na Roménia, União Soviética, Estados Unidos da América, Canadá, Países Baixos, Luxemburgo e Alemanha.

Foi condecorado com a Grã-cruz da Ordem da Liberdade, Medalha de Ouro de Serviços Distintos com Palma e Grau de Cavaleiro da Ordem de Aviz. Foi também agraciado com a medalha de Mérito Militar de Espanha e medalhas comemorativas das campanhas em África.

Durante 14 anos desenvolveu um projeto de cooperação técnica com Angola, Moçambique, Cabo Verde e S. Tomé e Príncipe.

Pintor autodidata, dedicava-se atualmente por inteiro às artes plásticas, tendo participado, conjuntamente com a sua mulher, em exposições por várias cidades portuguesas e também em Espanha, Alemanha, Áustria e França.

É o autor de mais de mil obras de arte e foi convidado de honra no primeiro concurso de pintura Angoulême, em França.

Além da pintura, Franco Charais deixa publicados três livros da sua autoria, todos editados pela Âncora Editora: 'Biografia de um Militar' (2022), 'História Viva' (2013), 'O Acaso e a História. Vivências de um Militar' (2002).

Para lá da vida militar e artística, desempenhou ainda funções como professor de matemática e físico-química em colégios particulares e no Seminário do Funchal.

c/ Lusa
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